CF 2014: “liberdade” é uma porta sempre aberta...

Pubblicato il 18-03-2014

di ARSENAL DA ESPERANÇA

Neste ano, a comunidade do SERMIG - Fraternidade da Esperança celebra o seu cinquentenário. Cinquenta anos durante os quais milhares de pessoas (presos, jovens em dificuldade, mulheres maltratadas, crianças abandonadas...) foram acolhidas e ajudadas a se reinserir na sociedade. Entre elas, muitas pessoas tiradas do tráfico. Neste período, publicaremos algumas dessas histórias que nos ajudaram a crescer e a nos tornarmos mais humanos.  

Disposta a tudo, para que seu filho pudesse nascer

Eu tinha me concedido um período de repouso fora das paredes do Arsenal. Uma vilazinha agradável, as montanhas, a família, amigos da Comunidade. Certa manhã, recebo a visita de uma pessoa que não conhecia. “É aqui o SERMIG? Procuro Olivero. Um amigo dele me mandou”. Alguns nomes de meus amigos são um salvo-conduto seguro e não tiro o corpo fora nem mesmo agora. Continua: “O senhor não me conhece. Encontrei uma moça africana. Tornamo-nos amigos, mas ela tem uma história terrível e eu não sei o que fazer. Está aqui no carro. O senhor pode nos escutar por um momento? Procuramos um canto sossegado onde falar sem sermos perturbados. Mary se junta a nós. É jovem, visivelmente assustada. Tenho a sensação de que, em seus 18 anos, carrega dentro de si um obstáculo insuperável. O amigo começa a contar. Conheceu Mary na rua. Ela lhe confiou ter chegado havia poucas semanas e estar grávida. 

Depois que os da organização souberam, querem que ela faça um aborto, estão tentando de todos os modos. Já acabou indo ao pronto-socorro duas vezes; batem nela, fazem-na beber misturas. Ele não sabe o que fazer. Mary — continua ele — quer ter seu filho, está disposta a tudo desde que ele nasça, mas tem medo. Um medo que a deixa apavorada.

Gostaria de ouvir dela, de suas próprias palavras o que ela pensa. O muro que existe entre nós deixa passar somente o silêncio. Longos minutos, depois lágrimas silenciosas, um pranto libertador. Percebo que violei um segredo muito grande, mas sinto que não devia parar ali. É preciso que Mary tenha confiança se quer ser ajudada.

Lentamente, começa a contar, em voz baixa, entre soluços. Foi arrancada de sua terra para uma troca, um revezamento com uma outra mulher da sua família, cansada da vida que levava na Europa. Tinham lhe falado que iria para a Alemanha para a colheita de frutas!

Viu-se na rua antes de ter tempo de entender. Tem um rapaz de quem é namorada, essa criança é dele, logo percebeu. Gostaria de voltar para casa, mas precisa pagar uma fortuna à organização e, se não o fizer, farão mal à sua mãe, aos seus irmãos, a ela. Uma fortuna para voltar livre, esse é seu preço. 

Para pagar deve trabalhar e para trabalhar deve se desfazer da criança, é o que lhe disseram todas as mulheres do seu círculo. Agora Mary consegue até sorrir, mas sua dificuldade passou toda para mim. Penso com raiva de que mal é capaz o homem em seus interesses. E nós? Como ajudá-la? Como proteger a criança?

Seguiram-se outros encontros com Mary, até que estivesse preparada para o grande salto: iniciar uma nova vida, pagar sua dívida trabalhando honestamente. Uma família a acolheu, a criança nasceu, trazendo alegria para ela e para quem a acolhia. São essas as novas escravas de hoje. Está certo tantas mulheres terem de se vender para pagar falsas dívidas? Muitos “autoridades” conhecem essas tragédias, esses negócios escusos, mas o que fazem? Encarregados. 
[Ernesto Olivero]
(*) Este texto é parte do livro: "Deus não olha o relógio" – Ed. Loyola.

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