CF 2014: “Humanos” que comercializam humanos...

Pubblicato il 15-04-2014

di ARSENAL DA ESPERANÇA

No Brasil, primeiro eram os indígenas que eram capturados ou enganados para trabalhar e entregar os bens mais preciosos da sua terra. Depois, eram os africanos que, capturados ou comprados de outras tribos, eram trazidos para cá para trabalhar como escravos. Mais tarde, europeus e asiáticos vinham para cá procurar uma vida melhor, e ao chegar – depois de passar por um período de quarentena na Hospedaria dos Imigrantes – encontravam mais trabalho duro e patrões que pagavam pouco e cobravam muito pela comida e pelo alojamento, fazendo que eles vivessem praticamente como escravos. Ainda hoje temos os boias-frias, as pessoas que trabalham quase só por casa e comida, os sul-americanos que vêm trabalhar na indústria têxtil, as mulheres e crianças que são trazidas ou levadas para satisfazer aos desejos de outros, e muitas outras situações que nem chegam ao nosso conhecimento. No texto a seguir, Talita Paes, gestora da equipe educativa do MUSEU DA IMIGRAÇÃO, faz uma reflexão sobre porque a escravidão e o tráfico humano ainda existem, no Brasil e no mundo todo.

Se pensarmos no significado da palavra tráfico, temos que está diretamente ligada ao comércio ilegal de algo. Comercializar é vender. Então, traficar é comercializar algo que não pode ser negociado legalmente. Agora, como unir essa palavra com a palavra “humano”? Humano vem do latim humanus e designa aquilo que está relacionado ao homem. No dicionário se relaciona também com o bem, o bondoso, o benfazejo. Seria mesmo possível comercializar algo dessa natureza? Infelizmente é necessário que pensemos a partir dessa possibilidade. Dentro das várias formas que temos hoje de comércio ilegal, um dos mais “rentáveis”, se podemos usar essa expressão, é o de pessoas. Notadamente mulheres e crianças. As mulheres porque nutrem um mercado de prostituição que está muito mais pautado nos homens, já que vivemos em uma sociedade machista. As crianças porque têm mais dificuldade, tanto física quanto psicológica, de reagir aos maus tratos e a qualquer tipo de submissão a que estejam sujeitas.

Por motivos diversos, temos “humanos” que comercializam “humanos”. Na maioria das vezes para fazer com que haja mais lucro e acúmulo de dinheiro. Nessa lógica, quanto menos se gasta com a produção mais se ganha com a venda. Pessoas são traficadas e escravizadas para que outras pessoas tenham mais dinheiro. Faz sentido?  O que nos leva a pensar nos porquês. Por que alguém está tão desesperado para ter mais? Por que alguém quer tanto mudar sua vida que aceita propostas escusas de trabalho? Quem são essas pessoas? As que traficam e as que são traficadas? Um dos pontos que precisamos considerar na tentativa de perceber melhor a situação creio que seja a desigualdade social que enfrentamos há bastante tempo, pelo menos em nosso país. O fato de um grupo possuir mais que outro de maneira tão discrepante que um deles seja milionário e o outro passe fome parece indicar algo nesse sentido.

Se temos alguém que não consegue garantir suas necessidades básicas e nem ter perspectivas nesse sentido, e temos também alguém que não consegue dar conta de toda a riqueza que possui, algo no caminho entre essas duas pontas certamente vai dar errado. No espaço que separa essas duas pessoas hipotéticas acontecem muitas desventuras e atrocidades, dentre as quais os conflitos entre as classes sociais e suas nuances, como assaltos, invasões, agressões diretas e indiretas, e os tráficos de drogas, de influências, de informações, de órgãos e até de humanos. Não proponho, nem por um segundo, que essa distância justifique ou responda as questões colocadas acima, mas acredito que é um indicativo a ser levado em consideração como ponto inicial na discussão dessas questões que urge serem repensadas, rediscutidas para que possamos caminhar no sentido de resgatar, melhorar essa condição “humana”, de maneira que tenha um significado mais semelhante para as duas pontas desse caminho.
Talita Paes
Gestora da Equipe Educativa
Museu da Imigração

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