CF 2014: Justiça ou amor? Agora é conosco...

Pubblicato il 29-03-2014

di ARSENAL DA ESPERANÇA

Talvez seja verdadeiramente difícil falar sobre a exploração sexual, mas esse foi o tema do nosso último encontro de oração terça-feira passada, 25 de março, no Arsenal da Esperança (foto). Milhões de crianças, meninos e meninas, mulheres e homens são inseridos em uma rede perversa que engana, vende, explora, abusa até que essas pessoas produzam lucro para que depois sejam descartadas definitivamente, como um objeto que não presta mais. Tudo isso acontece, ainda que no escuro, no meio de nós.


A CAMPAMNHA DA FRATERNIDADE desse ano nos estimula a enfrentar esses problemas e a contribuir para mudar as coisas. Um risco que sempre corremos nesses casos é o de apontar o dedo contra os culpados, ou contra o sistema corrupto e desonesto denunciando as violações dos direitos humanos, visando leis mais atentas e modernas e punições mais severas. Tudo isso é justo, mas não podemos nos esquecer de que esses crimes não acontecem em um mundo separado, mas sim neste mesmo em que nós vivemos. Denunciar é preciso, condenar é preciso, mas não podemos deixar de lado atitudes cristãs que podem aquecer o coração e a consciência daquele que perdeu o rumo, podem acolher sem julgar e que também podem dar uma possibilidade para quem precisa ser resgatado, protegido, libertado.

“É para a liberdade que Cristo nos libertou”. Essa frase da carta de São Paulo aos Gálatas (5,1) é um grito que se dirige à consciência de todos. O filosofo alemão Hans Joas afirma que sacralidade da pessoa (título do seu último livro) é o valor mais alto que a humanidade já reconheceu. A pessoa é sagrada e, portanto, ninguém pode violentá-la, escravizá-la, ou obrigá-la a fazer algo que ela não quer. Todas as vezes que algo fere a humanidade de alguém, acaba ferindo a humanidade inteira, isto é, todos nós. Mas o filósofo vai além ao afirmar que qualquer pessoa é um dom e que vem de fora de si, que se refere ao transcendente e que, por isso, não pode, mesmo na liberdade, ferir a sua própria sacralidade, enfim, não pode fazer qualquer coisa que lhe ocorra em determinado momento.

Nós cristãos aprendemos isso caminhando com Jesus. No encontro com a mulher que ia ser apedrejada (Jo 8,1-11), Jesus desafia aqueles que queriam cumprir a lei, eliminando a mulher apanhada em adultério. Jesus nos mostra que nenhuma lei, seja ela boa ou péssima, pode deixar de lado a sacralidade não só daquela mulher, mas de qualquer pessoa. Mesmo perante aqueles homens, cegos diante dessa sacralidade e determinados a matar, Jesus os interroga sobre sua própria sacralidade, que é dom de Deus. As pedras começam a cair das mãos e, talvez, cada um terá ido embora pensando... Será que também nós, hoje, perante os desafios do nosso tempo, teríamos a mesma postura, a mesma honestidade? Seriamos capazes de deixar as pedras caírem ou mataríamos?

Quando a sociedade nos oferece ou nos pede coisas que pisoteiam nossa sacralidade ou a sacralidade do outro, temos que nos interrogar a respeito de algumas coisas. Os ensinamentos e o modelo de vida que Jesus nos propõe não é somente o caminho para despertar as nossas consciências contra os criminosos, os traficantes, os aliciadores, mas sobretudo para mudar a nossa visão cultural, social e midiática de justiça... Para ir além, fazendo experiência da “lógica de Deus” através da solidariedade, da acolhida, do respeito à sacralidade que está em nosso irmão, um sagrado talvez sujado, pisado, machucado, amassado, mas ainda assim sagrado.

No dia a dia do Arsenal da Esperança a nossa Fraternidade se depara continuamente com pessoas que não sabem mais para onde fugir, onde se esconder, em quem confiar, pessoas que erraram e pessoas vítimas de erros alheios (inclusive tratam-se da mesma pessoa às vezes). No episodio da mulher relatado por João, ela não é julgada por Jesus, mas sim acolhida, enfaixada, protegida. Por conseguinte, nem os outros a julgam mais. Jesus lhe oferece a possibilidade de uma nova vida, lhe oferece uma solução, uma oportunidade de reconciliação. Essa postura de acolhida, de reconciliação, de apresentar uma solução para quem já foi ou está sendo condenado pela lei e pela sociedade agora cabe a nós.

Podemos sim gritar, criticar, denunciar as injustiças, mas se os que precisam de libertação não encontram uma porta aberta, ouvidos atentos para escutá-los, comunidades dispostas a restaurar vidas, se não encontrarem a mesma atitude de Jesus (que não julga o passado e nem o presente) será que poderemos nos chamar de cristãos? Afinal seríamos uma outra coisa, sem sabor e também sem força para levar adiante uma verdadeira luta pela justiça; faríamos uma luta pela metade, a luta de quem ainda quer simplesmente eliminar seus inimigos.

Só a luz elimina a escuridão, só o compromisso com a sacralidade da vida pode iluminar as consciências, só as atitudes boas, o bom exemplo, o desarmar-se de todos os preconceitos poderão oferecer às pessoas um motivo para desistir do crime, dos vícios, do caminho mais fácil... Nos Arsenais foram e estão sendo acolhidos ex-escravos, mas também talvez ex-escravizadores; mulheres que foram vítimas de violência e homens que acabaram sendo presos justamente por isso; mulheres que decidiram fugir da prostituição, mas também homens que entraram na prostituição porque violentados pela vida ou por jogo; pessoas que nos Arsenais encontraram um pouco de paz. Para muitos, a escravidão da prostituição, do sexo, entrou em circulo como uma droga; oferecer o próprio corpo, mesmo se for por um punhado de centavos, é a única coisa que sabem fazer e continuam escravos de si mesmos. Muitos conseguem se livrar disso, mas a violação da sua sacralidade permanece como uma marca profunda. Se nós, cristãos, aprendermos a ser como Jesus, o mundo fará experiência de Outra justiça, aquela que vai além das sentenças humanas... E isso cabe a nós.

Fraternidade da Esperança 

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