CF 2014: O SAMARITANO conhecia aquela HOSPEDARIA...

Pubblicato il 03-04-2014

di ARSENAL DA ESPERANÇA

Quando se fala do tráfico humano que atinge os migrantes de nosso tempo, uma das primeiras imagens que nos vêm à mente é aquela dos milhares de africanos que, fugindo da miséria, ou de regimes sanguinários, arriscam-se em viagens organizadas por traficantes de mercadoria humana que não possuem nenhuma preocupação humanitária. O único valor que sabem reconhecer é aquele do dinheiro: se porventura alguém perde a vida, isso não é problema deles. 

As imagens de verdadeiras carretas do mar, velhos pesqueiros que não teriam nem mais condições de navegar, abarrotados de homens, mulheres e crianças, são normais nos noticiários dos países europeus banhados pelo mar Mediterrâneo: cenário de uma verdadeira sucessão de massacres de pessoas inocentes, de vítimas da pobreza, do desespero e de um tráfico criminoso que não tem pena de ninguém. É impressionante quantas embarcações acabam chegando à costa italiana, porta de entrada da Europa.

Os estrangeiros que conseguem chegar ao Brasil, pagando intermediários para entrar ou permanecer ilegalmente no país, sem querer, acabam alimentando um tráfico que enriquece cada vez mais quem, também aqui, especula sobre as tragédias alheias. Uma vez que tenham chegado ao Brasil, mesmo quando apresenta pedido de refugio, deparam-se com uma situação de grande incerteza que mutila os sonhos de futuro e retira aquela certeza (ou esperança) de ter chegado a um país acolhedor. Abandonados, criam-se condições para que outros aproveitadores os utilizem: prontos para lucrar com aluguéis impossíveis em cortiços do centro, trabalhos sem nenhum direito ou garantia de segurança, documentação falsa etc. 

No nosso 4º encontro de oração sobre o tema da CF2014, nesta última terça-feira, 1° de abril, no Arsenal da Esperança, Alex Vargem (foto abaixo), do Instituto do Desenvolvimento da Diáspora Africana no Brasil (IDDAB), uma organização da sociedade civil que se dedica à pesquisa, documentação, educação para o desenvolvimento das populações africanas e da diáspora africana, nos ofereceu um quadro geral da situação dos estrangeiros, especialmente africanos e pedintes refugio, que vivem no Brasil. Descobrimos que “existe um grande atraso no gerenciamento destes fluxos migratórios, leis antigas e inadequadas e uma burocracia que decide em poucos minutos a respeito da vida dessas pessoas”. 

Enquanto aguardamos soluções mais adequadas, que podem surgir somente das instituições encarregadas, centenas de jovens africanos e haitianos se encontram, de fato, na mesma condição do homem ferido e socorrido pelo samaritano na estrada que de Jerusalém desce para Jericó (Evangelho de Lucas 10, 29-37) conforme ouvimos terça-feira à noite. Machucado, derrubado, amedrontado, sem perspectivas, aquele homem precisava urgentemente de uma ajuda; precisava de alguém que se compadecesse dele, que não tivesse medo de carregá-lo e de levá-lo consigo, que não virasse o olhar para o outro lado, que não fingisse não tê-lo enxergado. 

Os jovens estrangeiros acolhidos no Arsenal da Esperança precisaram disso; precisam dessa mesma atenção, mas a maioria das portas está fechada. Não são suficientes documentos provisórios, ou qualquer encaminhamento para resolver o problema de quem está totalmente desamparado, indesejado, forasteiro. Mais uma vez, a sociedade – que somos todos nós – não pode desviar os olhos.

Talvez aquele estrangeiro, tão querido por Jesus, que se encheu de compaixão e socorreu aquele homem, já tinha se encontrado na mesma condição; também ele, depois de assaltado ou descartado após ter sido explorado, deve ter encontrado um apoio, alguém que se compadeceu por ele. Ajudado, ajudou. Compadeceu-se porque alguém se compadeceu por ele. Ou porque não pensar que o samaritano ajudou o outro mesmo que ninguém o tenha ajudado? Por que não acreditar que o amor, o compadecer-se é mais forte do que qualquer tentação de julgar ou rejeitar? 


Francisco Xavier Van Thuan (foto, com Ernesto Olivero), bispo e cardeal vietnamita que ficou preso em um quartinho de um metro quadrado por 13 anos, nunca julgou seus carrascos; mesmo naquela condição conseguia converter os guardas e se tornou um dos homens mais caridosos que a face da terra já conheceu. Os prisioneiros esperam a libertação como todos esperamos o sol de manhã... Disse ele: "Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor." Aqueles que não o conhecem, é bom dizer que vale a pena ler a respeito da vida deste homem.

Pode ser que seja o pensamento, o ideal ou a fé de uma minoria, mas nós do Arsenal ainda acreditamos que o bem pode contagiar o mundo muito mais do que o mal. De uma coisa temos certeza: o samaritano conhecia aquela hospedaria em que levou o homem ferido; sabia que ali o teriam recebido com a sua mesma ternura e compaixão; sabia que para aqueles hospedeiros não era importante a nacionalidade, a religião, a história ou a cultura daquele homem, mas sim que era simplesmente um homem e que precisava de ajuda. Ele sabia, enfim, que naquela hospedaria o homem não teria sido julgado ou investigado, mas apenas curado, protegido até que ele pudesse retomar o caminho. 

Nós moramos em uma hospedaria e sabemos que esse é o pão cotidiano. Sabemos também que em nossa comunidade, assim como na sua, ainda existem muitas pessoas de boa vontade que, cada um cuidando de uma tarefa, podem se tornar muito mais do que um samaritano isolado, podem se tornar uma comunidade que acolhe, que se compadece dos mais pobres, dos doentes, dos oprimidos, dos estrangeiros de sua região, de sua paróquia, de sua subprefeitura. A parábola do samaritano nos diz que é fundamental que alguém se compadeça, mas sem uma comunidade, sem uma hospedaria pronta a abrir a sua porta, sem uma escola pronta a ensinar português de graça para quem fala outro idioma, sem um hospital pronto a curar quem está sem dinheiro, seria isso possível?... Os samaritanos de hoje, assim como os assaltados e feridos pelo tráfico humano, estão perdidos, limitados e impotentes. É a comunidade que deve ser samaritana e, com isso, multiplicar e organizar a solidariedade; é ela que deve abrir mais os olhos, revezar suas sentinelas, procurar envolver a todos e ser um ponto de paz aberto e disponível. O samaritano não fracassou porque conhecia aquela hospedaria que, por estar aberta 24 horas sem parar, precisa constantemente de denários (as moedas que o samaritano deu ao hospedeiro), de doações e, sobretudo, de corações e de braços disponíveis para acolher com competência, amor e credibilidade. 

Os nossos bairros carecem muito dessas comunidades acolhedoras! Como fazer? Precisamos desejá-las e reinventá-las, aprendendo de quem já tem essa atitude, essa disponibilidade, aprendendo até de um estrangeiro, um simplório, um viajante como era o samaritano... O único naquela parábola capaz de se comover e se aproximar do ferido. Nós e aquele estrangeiro, juntos, podemos formar a mesma comunidade: uma comunidade que acolhe. 

Fraternidade da Esperança

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