Era o dia 03 de outubro...

Pubblicato il 15-10-2015

di ARSENAL DA ESPERANÇA

Era o dia 03 de outubro, às 15h, horário da Itália, eu estava na majestosa catedral de Turim, o Duomo, junto a um pequeno grupo de amigos brasileiros, apertada por uma multidão que havia chegado de várias cidades da Itália para participar da cerimônia de ordenação sacerdotal dos três primeiros padres do SERMIG (Simone, Andrea e Lorenzo). Olhos curiosos, rostos emocionados, cada um de nós não estava ali por acaso, o momento era histórico para os Arsenais e mais uma vez eu pensava que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).  Não era a primeira vez que eu fazia memória a essa frase, me lembrei dela dias antes, quando começamos a chegar à Itália e compor a parcela brasileira dessa festa que, para nós, tinha um sabor especial, porque conhecemos o Arsenal da Esperança, trabalhamos na casa, onde convivemos muito de perto por alguns anos com Simone e Lorenzo. Éramos um pequeno grupo, mas que representava com muita força os amigos do Brasil e as inúmeras histórias daqueles que todos os dias batem à porta do Arsenal de São Paulo.

Eu não poderia falar dos sentimentos do dia da ordenação sem antes compartilhar os dias que a antecederam, sem tentar encontrar palavras que traduzam como é estar no Arsenal da Paz, onde tudo começou. A casa estava dentro da sua rotina normal, se preparando para a grande festa que aconteceria no sábado e, logo que cheguei, o primeiro lugar que conheci foi a pequena capelinha, onde junto ao altar central existe uma enorme cruz fixada e na parede se pode ler “a cruz das dores do mundo”. Fico impactada naquele momento e em muitos outros que vivenciaria naquela casa, e pensei em tudo que eu já havia lido, escutado e visto sobre a história do Arsenal, e a sensação era como se fossem pontos que se ligassem, respostas a muitas das perguntas que eu já havia me feito. Lembro-me de Ernesto e um pequeno grupo de jovens, que há muitos anos atrás sonhava em acabar com a fome no mundo, e tenho a certeza de que a história do SERMIG, dos Arsenais, foi e continua sendo escrita por Deus. 

Aquela cruz da capelinha me recordava também de que “o outro sou eu”... Sobretudo aquele que não é igual àquilo que sou...  O outro que dorme na porta da Igreja, o outro que é intolerante, o outro que é mal-educado, o outro que desafia em mim a prática de toda teologia que ouço. “O outro sou eu”... Depois do encontro de oração de que participei e que acontece toda terça à noite em todos os Arsenais, fui dormir pensando nisso e, no dia seguinte, depois da oração da manhã, eu mal poderia esperar o momento em que ouviria “ao vivo” o Buona Giornata, que já acompanhava há quase quatro anos pela internet.

Em seguida da leitura da página da Regra do dia, ouço “Buona giornata, é mercoledì...”. Eu estava lá! Estava sentada na capelinha! Era também para mim que Ernesto falava! Entre a emoção desse momento e o desejo de entender o que era falado, com os olhos fixos na cruz, confesso que pedi a Deus para que aqueles minutos não terminassem... Nos dias que se seguiram, eu me esforcei para estar presente em todos os momentos de oração da casa, onde também há muito trabalho a se fazer e, por isso, pude perceber que a grande força é mesmo a oração contínua, o que me trouxe a certeza de que a história que lá é vivida pertence antes de tudo a Deus.

Esses dias no Arsenal da Paz me ensinaram, sem dizer nenhuma palavra, que não faz sentido, não produz frutos, uma religião que só me mostra a repetição de ritos, que apenas se preocupa com reuniões, teorias, aquela na qual sinto que, ao sair da celebração, Cristo não permanece em mim. Se tudo que ouço não tem o poder de marcar, de produzir em mim uma identidade que me coloque no mundo, para ao menos tentar modificá-lo, não adianta dizer que sou cristão. O Arsenal da Paz e seu jeito de “ser Igreja” também me mostraram que o Reino de Deus se antecipa entre nós quando somos capazes de ser no mundo a força da Presença do Amor de Deus, quando lembramos todos os dias que Ele nos escolheu, que conta conosco para que a vida humana seja vivida como dom de Seu Amor. Sou imensamente grata a Deus porque eu estava ali, onde tudo começou, num ex-arsenal militar, transformado num lugar de fraternidade. Sou grata a Ernesto, à Maria, à Rosanna, aos consagrados, consagradas, voluntários, voluntárias e todos que de alguma forma têm suas vidas ligadas ao Arsenal, sou capaz de me lembrar dos rostos, não me lembro dos nomes de todos, mas não me esquecerei da acolhida, da alegria sincera pela minha presença e de todos do Brasil.      
         
Volto ao Duomo, à ordenação dos queridos amigos que Deus me presenteou; no final da cerimônia corro para alcançá-los levando a bandeira do Brasil e, nos abraços que se seguem, lhes expresso meus desejos de que suas vidas doadas através de mais um “sim” primeiramente sejam colocadas a serviço dos últimos do nosso tempo, que onde e com quem estiverem sejam sinais diários da Presença de Deus, que Maria Mãe dos Jovens esteja sempre com eles, que sejam simplesmente cristãos.
Com afeto e muita gratidão,
Célia

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