Ernesto Olivero: Carta a não sei quem...

Pubblicato il 18-08-2015

di ARSENAL DA ESPERANÇA

Algum tempo atrás, eu estava em uma cidade da Itália central com dois ou três mil jovens à minha frente. Quem me conhece sabe que eu nunca preparo um encontro, mas tenho sempre uma Bíblia comigo. Muitas vezes, impulsionado pelas perguntas, eu digo coisas que eu jamais teria pensado. Certamente sei que tenho dentro de mim um amor sem limites pelos jovens, pelos piores e pelos melhores, sem distinção. Talvez porque eu tenha sido influenciado por um homem de hábito branco que se chamava irmão Roger (Fundador de Taizé). Uma vez, ele disse que um punhado de jovens podia mudar a sua época. Ele era confiável e eu era um jovem. Eu me senti amado, mesmo que eu ainda não fosse capaz de realmente digerir as suas palavras. E, dentro de mim, pensei: quero tentar isso. Irmão Roger e outros testemunhos sérios me transformaram. 

Naquele dia, em uma cidade da Itália central, de uma forma imprevista também para mim, diante daquela multidão de jovens, desabafei: “vocês são medrosos e covardes duas vezes”. Seguiu-se um silêncio do qual ainda me lembro. E continuei: “vamos fazer um raciocínio. As estatísticas dizem que até 90% dos jovens se drogam. Vocês dizem que amam a ecologia, a paz, a justiça. Bem, eu não acredito. Vocês são amigos do crime. Para quem vocês dão o dinheiro de vocês?”. Dava para sentir o mal-estar no ar. “Vocês são covardes duas vezes e eu vou dizer o porquê. No meio de vocês pode estar um futuro grande político, um cientista, o futuro vencedor do Nobel pela paz. E o que vocês estão fazendo? De sábado à noite vocês se drogam, bebem, arriscam a própria vida dirigindo nesse estado. Então, eu pergunto: vivendo desse jeito, a beleza que há dentro de vocês nasce ou morre?”.

Desde então, eu repito os encontros com os jovens com um entusiasmo sempre novo. Uma vez, um rapaz me disse: “mas assim você quer mandar para a cadeia todos os que se drogam!”. “Não,” respondi, “você está enganado. Quero um mundo em que ninguém se drogue, nem mesmo nos casos em que isso seja permitido por lei. Quero jovens que livre e espontaneamente escolham viver como vivos. Não quero uma sociedade da redução de danos; para os jovens quero o máximo. Eu lhes quero bem de verdade e sei que vocês podem mudar o mundo. Podem se tornar políticos e não roubar, podem se tornar padres e ser como São Francisco, podem desenvolver qualquer função com paixão e responsabilidade. Eu sei que vocês podem fazer tudo isso”. 

Não sei a quem escrever esta carta. Mas a estou escrevendo, e alguém a interceptará.

Quem realmente ama os jovens? Os jovens morrem, e se fazem investigações, consultas, leis que depois ninguém observará.

Mas quantos ainda devem morrer? Eu gostaria que os políticos – de esquerda, de direita ou de centro – se olhassem nos olhos e se perguntassem: por que os jovens não estão em primeiro lugar? Basta um punhado de jovens para acabar com o crime. Eu quero uma sociedade livre – não carola –, onde os jovens encontrem casa e um pouco de sentido para a vida. Nós, com um punhado de amigos, estamos tentando fazer isso, e acho que não nos renderemos.

Não sei a quem escrever esta carta, mas a estou escrevendo mesmo assim porque acredito no que digo. Sei que não é um sonho, sei que pode ser realizado: só precisa de um pouco de boa vontade.

Ernesto Olivero
Avvenire, 12/08/2015
Texto original AQUI.

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