Migrar é direito, acolher é preciso... (Semana Nacional do Migrante e Dia Mundial do Refugiado)

Pubblicato il 21-06-2014

di ARSENAL DA ESPERANÇA


O meu nome é Thais dos Santos Domingues. Santos e Domingues são sobrenomes portugueses típicos de cristãos novos – ou seja, pessoas que se converteram ao cristianismo (de coração ou para fugir de perseguições) e se fizeram rebatizar com novos nomes. Também sou descendente de gente chamada Nunes e Alves (portugueses) e ainda Francesconi, Lorenzini, Franzozo (italianos, sendo que este último deu origem ao Françoso do meu pai)... 

Muitos europeus migraram para o Brasil no final do século XIXe no começo do século XX. Fugindo de uma Europa marcada por guerras, vinham tentar realizar no Brasil o sonho de uma vida melhor. Sonho alimentado por propagandas que pintavam o Brasil como a verdadeira terra prometida e por cartazes coloridos com navios que faziam o trajeto. Na hora do “vamos ver”, a coisa não era bem assim. Os navios não eram tão coloridos, muitos adoeciam e morriam nas longas viagens. Quando chegavam, mesmo que houvesse uma estrutura para recebê-los e muitas promessas, as condições de acolhida e de trabalho eram bem difíceis, e muitos acabavam trabalhando em condições bem parecidas com as dos antigos escravos.

Tudo isso sem falar do preconceito... Fico pensando em quantos portugueses de famílias tradicionais torceram o nariz para meus antepassados portugueses, recém-chegados, com nomes pobres... Em quantas vezes os meus antepassados italianos foram chamados de italianada, de carcamanos, de sujos... Em quanto tempo passou antes que os filhos e netos deles, nascidos no Brasil, começassem a ser vistos pelos outros como brasileiros...

A minha condição de vida hoje é bem diferente das condições em que eles viveram. Mesmo assim, eu carrego essa história no sangue. É graças a eles que eu estou aqui. É graças a eles que hoje, se vou para a Itália, lá sou chamada de brasileira.

Tendo consciência disso, não consigo não me sentir na obrigação de acolher da melhor forma possível os imigrantes de hoje. Quem são eles? Do que eles fogem? O que eles procuram? O que eles encontram aqui? Os lugares de origem e as histórias são diferentes, mas a humanidade, a busca de uma vida melhor, o sofrimento de deixar a própria terra e as diferenças entre o sonho e a realidade... Tudo isso é muito parecido.

Que promessas será que foram feitas? Que promessas ainda são feitas? Que oportunidades eles recebem de verdade? Ninguém deixa a própria terra para se aproveitar da terra dos outros. Deixar para sempre o seu lugar, a sua família, os seus costumes, a sua língua... É terrível! Só quem na sua terra se sente desrespeitado como ser humano é que sente o impulso de sair dali. E aonde eles chegam... Será que ali se sentem respeitados como seres humanos? Será que as promessas são cumpridas?

Eu sei que uma pessoa sozinha não consegue mudar tudo e nem salvar todo mundo. Mas jogar a responsabilidade no governo ou nas instituições também não é a solução. Muita coisa pode ser feita a partir de quem tem boa vontade: ser voluntário, se organizar com sua comunidade para oferecer acolhida a uma ou duas pessoas, acolher bem os novos vizinhos, ensinar as próprias crianças a conviver bem com todos... E, principalmente, parar de disseminar o preconceito contra quem vem de fora. Bem ou mal, esta terra foi construída por quem veio de fora. Pouquíssimos paulistas (na verdade, pouquíssimos brasileiros) são 100% filhos desta terra. É isso que nos faz ser conhecidos como um povo acolhedor.

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