O PRESÉPIO: evangelização pela simplicidade
Pubblicato il 18-12-2015
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A representação plástica que evoca a natividade de Jesus não vai além de uma rude manjedoura, quiçá uma tosca pousada de migrantes na beira da estrada, pouco importando o número de personagens envolvidos e se os fatos correspondem mais ou menos à realidade.
O presépio não é uma exibição cerebrina, não é um boletim de ocorrência, não é para convencer qualquer erudito, ou justo, ou puro: só convence a quem tiver o espírito da humildade, da hospitalidade, da sabedoria dos pequenos.
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Longe da estridência, usa a linguagem da simplicidade, da intimidade, da entrega, do acalento do amor. Será que me lembro da última vez que isso aconteceu comigo, de verdade?
É para ser contemplado segurando a mão de crianças, dos velhinhos, da mulher ou do homem amado, apoiando-se nos ombros dos amigos, em sintonia com a reverberação da vida.
Não é para ser visto às pressas, é para ser saboreado ao som do cântico do silêncio, sentindo a pulsação da prece. Terei vergonha se verter uma lágrima que limpe os olhos da minha fé?
Um dos nossos maiores poetas, Mário Quintana, exprimiu admiravelmente qual deve ser o caminho que ultrapassa a especulação, para além da própria ação, e que nos aproxima do agir de Deus, que é contemplar. Seus versos podem ser uma oração a ser recitada diante do presépio:
Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, justificar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.
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Quando um profundo silêncio envolvia o universo,
e a noite estava no meio do seu curso,
a vossa Palavra onipotente, Senhor,
desceu do céu, do vosso trono real.
Da liturgia do Natal, cf Sb18,14-15
Não temais!
Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo:
Nasceu-vos hoje um Salvador,
que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi.
Lc 2,10-11
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O símbolo entre a Eucaristia e o berço certamente inspirou S. Francisco de Assis quando ele celebrou a festa do Natal em Greccio (Úmbria, Itália), em 1223. Daí certamente derivam as representações que até hoje conservamos nas confecções dos presépios. No meio de um bosque o Poverello encontrou uma escavação em forma de gruta, em que ele colocou uma manjedoura com o jumento, o boi e o feno. Ainda nenhuma imagem da Virgem, do Menino e de José. Os participantes da cerimônia completaram com sua criatividade a composição dramática da cena do nascimento do Salvador. Em cima da manjedoura celebrou-se a Missa e aos poucos o altar provisório foi substituído por um definitivo. Nenhum documento registra se essa solenização foi renovada por S. Francisco ou por seus filhos e filhas espirituais. A Legenda de Santa Clara narra que a santa, doente, impedida de participar dos ofícios litúrgicos natalinos, teria tido uma visão das representações. Não foram, contudo, os franciscanos, mas sim os jesuítas, que divulgaram essa versão de Francisco de Assis como o iniciador da devoção ao presépio.
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Na cidade de São Paulo, temos encantadoras reproduções de presépios, desde os expostos no Museu de Arte Sacra (como o imenso, variado e até divertido “presépio napolitano”), até a impressionante e cada vez maior coleção de presépios do mundo inteiro expostos nessa época do ano pelos frades franciscanos no Convento São Francisco, no centro da capital. Também o Mosteiro de São Bento organiza linda exposição nesta época
Nas palavras de Tomás de Celano, biógrafo de São Francisco, aquela celebração era realmente nova, “um novo mistério... uma nova alegria. O Menino Jesus estava esquecido nos corações de muitos... Francisco o ressuscitou”.
Feliz Natal de alegria e paz!
Domingos Zamagna
p.s. Nas fotos, algumas imagens dos presépios 2015 do Arsenal da Esperança