“PAI NOSSO”, o caminho da fraternidade...

Pubblicato il 07-01-2014

di ARSENAL DA ESPERANÇA

No 3º capítulo de sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco pergunta: “Conseguirão (os homens e as mulheres), meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?”. Francisco responde com as palavras de Jesus: “dado que há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23,8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus”. 

Foi à paternidade de Deus que dedicamos o primeiro encontro (7.01.14) da série “FRATERNIDADE: uma única família humana”. A nossa primeira reação à escuta do trecho Evangelho de Mateus que fala sobre a oração do Pai-nosso (6,5-13) deveria ser de grande gratidão a Jesus por ter nos doado a maravilhosa possibilidade de nos relacionarmos com Deus de uma maneira “familiar”. Não mais o Deus de uma religiosidade distante, formalista e atemorizante, mas um Deus que se deixa encontrar a partir da nossa pequenez que se abandona à sua grandeza: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele!” (Mc 10,15).  

Nas estradas da Palestina, 2000 anos atrás, Jesus ajudou seus discípulos a entrar nessa atmosfera de familiaridade e, depois, ensinou para eles uma oração que começa assim: “Pai nosso...”. Está tudo aqui. As primeiras duas palavras da oração que Jesus ensina aos seus amigos apontam para o caminho da fraternidade, uma fraternidade que, como afirma o Papa, “supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento dessa paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se ‘próximo’ para cuidar do outro”.

Pai nosso... Existe outra origem possível para uma fraternidade humana? Sem pronunciar essas palavras, o que resta dos nossos relacionamentos? Talvez, apenas a exploração mútua, a inimizade, a guerra. Pai nosso... Se os nossos dias começassem assim, se o nosso olhar sobre o outro se baseasse nessas palavras, a vida se tornaria possibilidade de diálogo com todos e com tudo. Afinal, Jesus veio dizer o quê? Que Ele é o enviado do Pai. Enviado para fazer o quê? Para nos revelar o mistério da vida, da nossa vida, da vida eterna: “Esta é a vida eterna: que conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que enviaste” (Jo 17,3). 

Nós, cristãos, poderíamos transformar o mundo simplesmente rezando com mais convicção estas duas palavras, Pai nosso... Duas palavras que um dia fizeram entrar em crise a nossa comunidade. Tínhamos orado infinitas vezes com essas palavras, mas um dia veio a questão: “Será que podemos continuar rezando com as palavras ‘Pai nosso’ sem sermos hipócritas?”. Afinal, nós, homens e mulheres, na realidade, não vivemos como irmãos e irmãs entre nós...

Por um período paramos de rezar a oração do Pai-nosso. Não queríamos mais rezar com essas palavras porque da nossa boca sairia uma mentira.

Mas não paramos de buscar... E a bondade de Deus veio ao nosso encontro e nos levou a entender que todas as palavras do Evangelho são como uma semente e que cada homem e mulher é como um terreno que recebe essa semente. Se o homem não acolher a Palavra assim como a terra boa acolhe a semente, nunca gerará fruto. 

Foi como se Deus nos dissesse: “Os homens e as mulheres não vivem como irmãos? Então comecem vocês!”. Ficamos em silêncio e pensamos que a oração do Pai-nosso e todas as orações que conhecíamos sobre o Amor apontavam um dedo para os gestos que tínhamos que fazer para torná-las não uma mentira, mas uma realidade. 

Começando a colocar em prática o Pai-nosso sentimos a exigência de recomeçar a rezar com essas palavras, mas sempre com esta intenção: como viver essas palavras? “Restituindo” o nosso tempo, o nosso dinheiro, as nossas ideias... Colocando-as a serviço de todos. Um pouco de cada vez entendemos que podíamos rezar de uma maneira coerente, testemunhando a paternidade de Deus e a fraternidade entre os homens.

Tudo isso nos ajudou a nos sentirmos cada vez mais responsáveis pela humanidade, uma humanidade que fala de amor e justiça, mas que se acostumou às pessoas na rua, aos mortos por causa da fome, da violência, da não vida. Toda vez que falamos de um Pai cheio de amor para com os seus filhos, temos que ter a coragem de olhar nos olhos daqueles que ainda não conheceram concretamente o Amor do Pai, porque eu ainda não respondi ao Amor dele. Como podemos falar de Deus e de amor ao próximo se não partilhamos nada do que é nosso?. Como podemos rezar Pai nosso... se não escutamos o outro como gostaríamos de ser ouvidos? Como podemos rezar Pai nosso... e julgar o nosso irmão de uma forma com que não gostaríamos ser julgados?... 

Todos nós somos filhos do mesmo Pai. Eduquemo-nos, portanto, a ver nas nossas famílias, nas nossas comunidades e nas nossas escolas principalmente os irmãos mais frágeis, as pessoas mais afastadas ou descartadas, aquelas que nos incomodam, perto ou longe de nós. Então a palavra nosso não será mais um nosso genérico, mas terá o rosto de homens e mulheres reais, e não correremos o risco de inventar-nos um Pai sob medida.

Referências:
- La via dell’amicizia, de Riccardo Bonacina, NP, dezembro de 2006.
- Non faccio i fatti miei, de Ernesto Olivero, La Chiesa Scalza, p. 110-111.
- Padre Nostro, de Ernesto Olivero, Amare con il cuore di Dio, p. 80.

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