Presente de Natal

Pubblicato il 28-12-2015

di ARSENAL DA ESPERANÇA

Neste Natal mantivemos a porta aberta: milhares de pessoas, "marcadas pela vida", encontraram uma refeição, uma cama, uma atenção que se fez carne.

Juntos, vigiamos, celebramos, cantamos, compartilhamos um pequeno presente... para dizer a cada um, até mesmo ao mais "distante", que o Deus-Menino se fez próximo, Presente nele, em nós. Que o Espírito de Natal continue Presente...

Estas palavras de Dom Luciano Mendes de Almeida, pescadas do distante 1984, nos dão o sentido profundo deste Deus “Presente de Natal”.

Natal está aí. Brinquedos. Presentes. E a vida continua. Quem conversa fala de quê? Luta pela vida. Emprego. Custo do leite e do pão. Inflação que ninguém segura. Preço do ônibus e do metrô. Aluguel, água e luz. E se não é disso, de que falamos? Da notícia do jornal de hoje: esporte e política. Páginas amarelas. Paixão e violência. Crime. Corrupção. Parecem até notícias importantes, lidas com sofreguidão. Mas de que valem? Haverá coisas menos atraentes do que o jornal de ontem. No entanto, é sobre isso e quase só disso que falamos. 
Ninguém penetra no íntimo do próprio ser: nas alegrias e sofrimento do seu mundo interior. É aí que guardamos as dores recônditas, os momentos felizes, as mágoas e os sonhos de infância. 

Mas quem quer não ouvir falar sobre isso? As grandes emoções e sentimentos, descobertas e desencontros, tudo o que fere e faz sofrer, tudo o que alegra e faz viver, tudo fica aí, guardado no âmago do ser. Aí, onde cada um de nós é original, é idêntico a si mesmo. 

Quando o amor nasce e cresce, quando as vidas vão coincidindo, há muito do segredo que aflora e se faz palavra, intercâmbio, comunicação. Penetra-se um pouco no íntimo de cada um. Mas não é sempre assim. Nem toda riqueza interior pode fluir pela palavra. Não há tempo para contar tudo. Mesmo entre os que se amam, fica muito por dizer.

É por isso que cada um de nós conserva seu mistério, guarda sua identidade , ali onde o outro não consegue penetrar porque falta a palavra que introduz na vivência quente da partilha de vidas. 

Assim, quando deixarmos de lado a conversa superficial e entrarmos no interior de nós mesmos, percebemos que vamos ficando sozinhos, sem interlocutores. A descoberta do isolamento interior parece nos enclausurar na própria angústia e pequenez. No profundo de nosso ser, ali, onde os outros não conseguem penetrar, encontramo-nos com a impressão forte de solidão. E isto nos entristece. 

Esta tristeza revela que cada um de nós é feito de abertura ao outro. Captamos, então, algo maravilhoso: somos feitos para a comunhão. Na solidão, a tristeza. Na felicidade, o outro. 

Mas que outro? Se no âmago de nosso ser não conseguimos introduzir ninguém? Estamos a um passo da descoberta maior. É que em nosso íntimo, de fato, não vivemos sozinhos. Eis a chave do mistério. Para além da solidão, feitos para comungar com o outro, descobrimos em nós a presença viva de Deus. No íntimo só Deus penetra, reside e oferece comunhão plena. Sem ele ninguém vence a solidão radical.

Para isso fomos feitos: para entender que a amizade e o amor humano valem muito. Aproximam as vidas que se doam e se completam. Mas não é tudo. Temos de descobrir, para além do amor humano que há algo imensamente maior: o encontro, já nesta vida, dentro de nós, com o próprio Deus que se faz presença. 

Natal é Deus-Menino que nasce em Belém, no meio dos homens. Dentro de nós, também. 

Brinquedos. Gastos. Ilusões. Natal, mais do que presentes, pode ser a descoberta, enfim, do Deus-Presente. Ele não vem. Já está.

Dom Luciano Mendes de Almeida, 15.12.1984 
In: Dizer o testemunho – Dom Luciano Mendes de Almeida – Vol. 1
José Carlos dos Santos e Lúcio Álvaro Marques, Paulinas, 2013

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