Professores voluntários dão aula de português para IMIGRANTES e refugiados

Pubblicato il 08-11-2013

di ARSENAL DA ESPERANÇA

O atual trabalho de aulas de português para os estrangeiros abrigados no Arsenal da Esperança faz parte de uma história que teve seu início em meados de 2012, com a chegada dos primeiros grupos de haitianos falantes de créole e de francês. Naquela mesma época, ainda em menor número, começaram também a chegar os primeiros imigrantes provenientes da África, tendo como idiomas o francês e o inglês.

O nosso contato com eles foi se intensificando, inicialmente nas aulas para os oriundos do Haiti e em seguida, com a formação de duas novas salas compostas de alunos africanos, que se tornaram a maioria dos estrangeiros acolhidos na casa.

A educação tornou-se um caminho de acolhida e de escuta. Assim ficamos conhecendo a história mais geral dos sofridos povos africanos, praticamente desconhecida, conforme lemos em reportagem do jornal O Estado de São Paulo, que cita a guerra no Congo como o “holocausto africano, do qual não se ouve falar porque ocorre na floresta densa de um continente esquecido, a África, e porque não mata brancos, não ameaça o Ocidente. Pelo menos, até agora.” (20/10/13)

Portanto, esses imigrantes estão no país devido a circunstâncias dramáticas, alheias à sua vontade. São provenientes de grandes crises humanitárias, novas ou relacionadas a conflitos antigos que continuam provocando deslocamentos. E vêm dos mais diversos países da África: do Mali, de Burkina-Fasso, das Guinés Bissao e Conacry, do Togo, do Congo, de Serra Leoa, entre outros. Fogem da guerra, da fome e da perseguição religiosa. Chegam sozinhos, utilizando seus próprios recursos e tentam, aos poucos, encontrar o equilíbrio através do trabalho, de um local de habitação e de um grupo de amigos. Embora vários deles tenham nível universitário veem-se obrigados a aceitar empregos na construção civil, pois os diplomas obtidos nos países de origem não são reconhecidos no Brasil.


Nosso empenho no relacionamento com eles é o de deixar que falem de si, lembrando-se de tudo que deixaram na terra natal. Esta é a maneira de manter e de revigorar sua história, sua cultura, nessa difícil experiência de “estar fora de lugar em um país estrangeiro.”

A partir da necessidade premente de aprenderem a língua portuguesa do Brasil, brotou a nossa percepção da angústia que sentem por não serem entendidos e de não compreenderem o que o outro fala. Sempre nos impressionou este sentimento de desamparo e igualmente a sua gratidão por tudo que têm recebido no Arsenal da Esperança, que é, atualmente, a instituição que detém o maior número de estrangeiros acolhidos na cidade de São Paulo. Nesta casa eles encontraram a presença da amizade e da solidariedade que ajudam a superar o estranhamento de quem deixou hábitos, amigos, vizinhos, a paisagem natal, as festas, a maneira de vestir e até o modo de louvar o seu Deus.


Aos poucos fomos aprimorando o nosso jeito de trabalhar com eles, tendo em vista, primordialmente, suas necessidade imediatas, uma vez que o alcance de seus objetivos está totalmente vinculado ao saber expressar-se no idioma falado no país. Daí a nossa preocupação em adequar o aprendizado da língua portuguesa à realidade social com que irão se defrontar no mercado de trabalho e com o domínio da conversação básica de uso cotidiano. Além disso, constatamos que vários deles, por serem muçulmanos, foram alfabetizados apenas em árabe e outros ainda, vindos de regiões agrícolas extremamente pobres, jamais foram à escola alguma. Sendo assim, ao ensino da língua em si alia-se, muitas vezes, o trabalho da alfabetização, pura e simples.

Na pesquisa dos materiais a serem utilizados nas aulas chega-se à compreensão de que ao ensinarmos uma língua determinada, transmitimos, ao mesmo tempo, valores, costumes, maneiras de pensar e de agir de um povo. Nesse sentido, há um esforço para ambientar e integrar os estrangeiros na cultura brasileira, considerando as diferenças culturais e o fato de que trazem para a sala de aula uma percepção particular do mundo, histórias distintas, bagagem cultural e interesses diferenciados. 

Nesse momento formamos uma equipe de professores voluntários, todos bastante entusiasmados com o trabalho. O relacionamento com esses homens que vieram de longe, trazendo sonhos, esperanças, culturas variadas, desconhecidas e exóticas, nos fez constatar ao vivo e a cores, não somente as dores do Haiti e da África, mas também a dignidade e a coragem desses imigrantes que vieram para trabalhar e para simplesmente viver. É a certeza plena de que nós, da raça humana, somos todos iguais, não importando a etnia, a cor da pele, a religião. Todos temos as mesmas necessidades, os mesmos desejos, as mesmas tristezas e alegrias. Daí a premência da acolhida, do diálogo, da vida compartilhada através da possibilidade de uma comunicação de paz.
Beatriz Lipskis
Sônia Maria de Freitas Altomar

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