Uma boa notícia: pode-se mudar o mundo.

Somente quem entende que o mar é feito de pequenas gotas sabe perceber a verdadeira dimensão do “pequeno” rio que anteontem molhou o Arsenal. Um rio de jovens que talvez nunca tivessem imaginado atravessar, um dia, a porta de uma casa muitas vezes “des-conhecida” como um albergue. Mas sábado de manhã, graças também a disponibilidade de diretores e professores das escolas, começaram a chegar em pequenos grupos, com sacolas de alimentos e produtos de higiene na mão, curiosos – tanto quanto nós – para saber o que iria acontecer...

Um lindo dia de sol – cada vez mais raro com o aproximar-se do inverno – nos permitiu dar as boas vindas no pátio: os acolhidos do Arsenal, dispostos em duas alas, ritmavam um OOOOOOOOOOOOLÉ para cada grupo que entrava; voluntários e voluntárias cadastravam os nomes, distribuíam os crachazinhos, anotavam os emails, “interrompidos” pelo bom humor dos atores e palhaços da Cia Estável. A certo ponto, todo mundo foi convidado a se dirigir ao primeiro momento do dia, aquele dedicado ao NÃO ACEITO.

Na história do Arsenal aprendemos que a PAZ COMEÇA COM UM “NÃO” À GUERRA, às injustiças, à fome, mas que depois tem que se tornar UM “SIM” À PAZ, à justiça, tem que se tornar um “CONTA COMIGO”.

Quando percebemos que em nossa volta muitas pessoas estão tombando, por causa da droga, da solidão, da falta de sentido, nos perguntamos: “Nós queremos ser uma árvore que cai ou uma floresta que cresce?” Foi assim que três anos atrás, por amor aos jovens, nasceu a iniciativa chamada FLORESTA QUE CRESCE que se radicou através da disponibilidade dos acolhidos do Arsenal que ali encontraram, muitas vezes, uma oportunidade de resgate e para começar a descascar o muro de preconceitos que os cerca.

Aquele MURO, sábado de manhã, o colocamos no meio de um grande salão e depois de utilizá-lo para projetar um vídeo sobre as muitas ações de solidariedade, de repente se abriu e apareceram por trás os protagonistas de tanto BEM já feito sem fazer barulho...

Espontaneamente os jovens se levantaram e começaram a bater palmas como se estrelas tivessem entrado no salão. Foi um momento fortíssimo, certamente uma das coisas mais lindas que aconteceram nesta “casa que acolhe”. Um momento do qual nos alimentaremos por muito tempo, para continuar a acreditar naquela “revolução” possível de fazer do Arsenal não um gueto, mas um lugar de encontro, em que qualquer um, até uma pessoa que para muitos não tem valor, pode contribuir para um bem maior e testemunhar aos outros que o MUNDO PODE SER MUDADO.

Os TESTEMUNHOS foram o coração da segunda parte, em que cada grupo de jovens contou aos outros uma experiência de solidariedade, de acolhida, de contato com situações difíceis e de como é possível “arregaçar as mangas” para transformá-las em oportunidade de mudança. Palavras, gestos e imagens se intercalavam em um espaço recuperado no meio do entulho e ruínas de um local em reforma. Pedras e tijolos que depois foram pintados como sinal de uma destruição que – com o empenho de muitos – pode voltar a dar vida e esperança. Aqui lembramos de RAFAEL, um jovem que desde 22 de maio de 2008 não está mais conosco, mas que vive na comoção dos pais e das irmãs – presentes ao encontro – e em cada jovem que acredita que a vida é preciosa e não pode ser desperdiçada.

O NÃO DESPERDICIO foi uma das chaves de leitura do último momento, o do ALMOÇO DOS POVOS, uma dinâmica que foi pensada para ajudar os jovens (e não somente eles) a refletir, de uma forma “global” e interativa, sobre aquilo que acontece a cada dia no mundo, tendo como base de raciocínio a injusta distribuição dos recursos em nível mundial. Hoje 30.000 pessoas morreram de fome; amanhã morrerão outras 30.000... Quando isso começa a ser percebido, entramos na vida real, aquela vivida de olhos abertos e, talvez assim, possamos começar a mudar alguns hábitos de pensamento e a maneira de habitar a nossa própria casa, a nossa cidade, o nosso País, o mundo. Foi este o espírito do “CONTA COMIGO”.

OBRIGADO a todos aqueles que acreditaram neste encontro, às voluntárias e voluntários da casa, aos músicos e cantores do Grupo OPA, aos atores da Cia. Estável, ao Coral da Esperança (também com a música e a arte pode-se mudar o mundo), a todos aqueles que não puderam vir, mas que nos acompanharam também com o silêncio e a oração e, sobretudo, aos diretores, professores, alunos e alunas da Escola Estadual Oswaldo Cruz e dos colégios São Francisco de Assis, Mary Ward, Nossa Senhora Menina, Nossa Senhora de Lourdes, São Miguel Arcanjo, Agostiniano São José, Santa Maria, Franciscano Nossa Senhora do Carmo, Sagrado Coração de Jesus.

Todos nos ajudaram a realizar um sonho de Dom Luciano, que “é possível se unir para fazer o bem”.